Agroecologia
Composto Orgânico
27 de out. de 2017
Introdução

Trata-se de uma prática milenar que visa uma fertilidade orgânica duradoura tendo sido praticada por diversos povos, permitindo a produção sustentada de diversos cultivos ao longo de séculos, como por exemplo o arroz irrigado do extremo oriente. Nela aproveita-se tudo que é resíduo orgânico na fazenda para produzir o húmus de composto. Se observarmos a natureza podemos identificar nas grandes florestas, pequenas matas em formação ou mesmo um jardim em equilíbrio, a integração dos reinos, e observar o exemplo vivo do processo de compostagem que acontece diariamente. Todos os elementos que a compõe se integram a cada ciclo, e que imitamos quando fazemos o processo de compostagem. É também um grande exemplo de equilíbrio entre os elementos básicos que provêem a vida no planeta Terra: água, terra, ar e fogo; se em algum momento algum destes elementos não estiverem em equilíbrio, o todo fica comprometido de forma desestruturada.
O composto faz parte dos ciclos da vida do planeta: alimento colhido é processado – usado na alimentação – os resíduos são separados – estes resíduos são reprocessados nas pilhas do composto – o processo de compostagem os transforma e os estabiliza – o composto pronto é usado como adubo orgânico na produção de alimentos e novamente o alimento é colhido.
Porque fazer compostagem?
Permite o melhor aproveitamento de restos orgânicos com relação C/N desbalanceada, que juntos aproximam-se de uma C/N desejada (de 25/1).
Desinfeta os materiais orgânicos de doenças, pragas e ervas daninhas;
Afugenta ratos e camundongos, cobras;
Permite acumular e multiplicar matéria orgânica para uma aplicação posterior e estratégica.
Reduzem as perdas de nutrientes, disponíveis em resíduos subaproveitados.
Qualidades do composto
Fonte de lenta liberação de macro e micronutrientes como também de nutrientes orgânicos;
Excelente estruturador do solo, favorecendo um rápido enraizamento, formando grumozidade;
Aumento da capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão;
Grande ativador da vida do solo, responsável por todos itens de um solo fértil;
Permite o aumento do teor de matéria orgânica, aumentando também a capacidade de retenção de água no solo;
Aumenta a saúde e a resistência das plantas, que são enfraquecidas por adubos minerais.
Princípios da compostagem
A compostagem é uma seqüência de ações de microorganismos sobre a matéria orgânica, que a “digerem”. Este processo, desde o inicio até a maturação do composto, acontece em fases que podemos observar:
Primeira fase (termófila e mesófila): atuam principalmente fungos, bactérias , actinomicetos, protozoários e miriápodes; nela se destaca o "cozimento" e a decomposição da celulose e hemicelulose; a lignina continua sendo decomposta e será modificada mais lentamente;
Segunda fase (transformação): atuam principalmente, protozoários e minhocas; termina a decomposição de celulose, continua a de lignina e principia a síntese de ácidos húmicos;
Terceira fase (amadurecimento): besouros, lacraias e formigas; a síntese e ressíntese de húmus é concluída e estabilizada. Para uma boa atuação, deve-se ter equilíbrio, de ar e umidade, suficiente calor e um PH propício.
Matéria prima
A principio todos os restos vegetais e animais podem ser aproveitados; deve-se evitar apenas dejetos humanos e de animais carnívoros. Todo material orgânico é fonte de energia e de nutrientes para os organismos decompositores, sendo necessário, portanto, sabermos avaliar cada qual nas suas características.
materiais de rápida oxidação : rápido aumento da temperatura da pilha - amido. açúcar, vitaminas e aminoácidos (materiais mais úmidos, mais ricos em nitrogênio).;
materiais de lenta oxidação: hemicelulose, celulose, e principalmente lignina (materiais muito secos, ricos em carbono).
A relação C/N

Além do carbono, o principal elemento que caracteriza a matéria prima é o nitrogênio; sua presença em certo grau é uma garantia de que os outros elementos importantes, como enxofre (S), fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), potássio (K) e micro nutrientes (Fe, Zn, Cu, Mo, B, Mn e Cl), também estão presentes num grau proporcional. Por isso, ao invés de fazermos uma análise dos teores de todos esses elementos, só nos interessa, na prática, o teor de nitrogênio em relação ao teor de carbono (relação C/N). Materiais ricos em N terão C/N baixa; Materiais pobres em N terão C/N alta)
C/N ideal/média (25 a 30:1) nesta proporção os organismos decompositores tem o alimento balanceado não tendo que se desfazer de nenhum elemento para criar um equilíbrio.
C/N baixa (< 20:1) nesta proporção a decomposição equivale à podridão de um cadáver animal. O mau cheiro da podridão nada mais é do que a perda do excesso de N e S (cheiro amoniacal e sulfúreo). Para reduzir perdas pode se adicionar folhas e galhos secos, palhas ou serragem.
C/N muito alta (> 35:1) esta proporção constitui uma trava à franca atividade dos decompositores pela falta de N. O processo será lento e frio enquanto o excesso de C for dissipado. Para acelerar o processo basta acrescentar uma fonte rica em N (Esterco, cascas de frutas, folhas verdes).
MATERIAIS MAIOR QUANTIDADE DE NITROGÊNIO MATERIAIS MENOR QUANTIDADE DE NITROGÊNIO plantas cultivadas plantas nativas, de mata, campo ou cerradoplantas verdes plantas secasplantas herbáceas plantas arbustivas e arbóreasfolha, broto, flor e fruto (sementes) haste, caule, ramo, galho, tronco e cascasleguminosas e plantas aquáticas demais famílias
Obs.: quando só se tem material com menor quantidade de N pode-se compensar essa falta plantando bancos de leguminosas para servir de fonte de N. Desde que os animais aceitem o material com menor quantidade de N, ele também pode ser usado como cama do gado, cavalo ou ovelhas para absorver a urina, rica em N.
Composição de alguns materiais empregados no preparo do composto
Material M.O. C/N N% P2O5 K2O Amoreira/folhas86,0813/13,771,07-Arroz/palha 54,3439/1 0,780,580,41Bagaço de cana58,5022/11,490,280,99Bagaço de laranja22,5118/10,71 0,180,41Banana/folhas88,9919/1 2,580,19 -Banana/talos de cacho 85,2861/10,770,15 7,36Barbatimão/cascas esgotadas91,3235/11,540,170,30Café/palha93,1338/11,370,261,96Cana-de-açucar/bagaço71,4437/1 1,07 0,250,94Capim colonião91,0327/1 1,870,53-Capim gordura - catingueiro92,3881/10,630,17 -Capim limão (cidreira)91,5262/10,820,27 -Cápsulas de mamona94,3344/11,180,29 1,81Casca de arroz54,5539/10,780,580,49Casca de semente de algodão95,9878/10,68 0,06 1,20Crotalária juncea91,4226/11,95 0,40 1,81Esterco de carneiro/ovelhas65,2232/1 2,131,283,67Esterco de cavalo46,0018/11,44 0,53 1,75Esterco de gado62,1120/11,271,04 1,37Eucalipto/resíduos77,6015/12,830,351,52Feijão guandu95,9029/11,810,591,14Feijão-de-porco88,5419/12,55 0,502,41Feijoeiro/palhas94,6832/11,63 0,291,94Goiaba/sementes98,6948/11,130,360,40Grama batatais90,8036/11,390,36-Grama seda90,5531/11,620,67 -Inga/folhas90,6924/12,110,190,33Lab-lab88,4611/1 4,562,08 -Laranja/bagaço22,5818/10,710,18 0,41Lenheiros/resíduos39,92 30/10,750,600,42Mamona/capsulas94,6053/11,180,30 1,81Mandioca (folhas)91,64 12/14,35 0,72-Mandioca (ramas)95,2640/11,310,35 -Mandioca/cascas das raízes58,9496/10,340,300,44Mandioca/raspas96,07107/10,500,261,27Milho/palhas96,75112/10,48 0,38 1,64Milho/sabugos45,20101/10,520,190,90Mucuna preta90,6822/12,240,582,97Palha de café93,9931/11,650,181,89Palha de feijão94,6832/11,630,291,94Palha de milho96,75112/10,480,381,64Rami/residuo60,6411/13,203,68 4,02Samambaia95,90109/10,490,040,19Serragem de madeira93,45865/10,060,01 0,01Torta de mamona92,2010/15,441,911,54Torta de soja78,407/ 16,560,541,54Trigo/palhas 92,4070/10,730,07 1,28
Estrutura do material
Material muito lenhoso (galhos, ramos, etc.) não devem passar de 10% em volume. Caso contrário resultará numa pilha hiper-arejada e por isso muito seca. No caso ideal deixar os galhos de molho ou ainda usa-los para compor a cama de animais. Este material deve ser quebrado em pedaços com 5 a 12 cm de comprimento (1/2 palmo).
Material muito fino (borra de açude ou plantas aquáticas) devem ser pré-secas para não empastar a pilha, que ficará muito úmida.
Umidade
Umidade ideal: 50 a 60%. Teste prático: o composto deve soltar água como uma esponja que já foi espremida antes. Umidade processual mínima : 40 a 45%. Umidade para conservação: 12 a 15%.
Obs.: Para manter a umidade ideal, deve-se cobrir a pilha com folhas ou qualquer tipo de palha, ou até plantar uma abóbora em volta dela. Na questão da umidade torna-se importantíssima a escolha de um bom local.
Local apropriado
Este deve ser protegido do vento, do sol e da chuva. Na sombra de uma árvore temos estas condições e ainda deixamos o resíduo da pilha para esta árvore. Por isso o pomar, é um ótimo local para se fazer uma rotação com as pilhas.
Num local coberto e com piso firme, temos as condições ideais que minimizam as perdas. Quando exposto a sol e chuva diretamente, o composto pode perder até metade de sua qualidade, devido à perda de nutrientes. Em regiões muito úmidas fazer a pilha ao nível do chão protegendo o local com um sulco escoador e escolhendo leve inclinação. Em regiões muito secas a pilha pode ser enterrada a um terço (50 a 70 cm).
Aeração

Ela é antagônica à umidade e deve ser bem dosada. Garante o bom suprimento de todo os seres decompositores com oxigênio, eliminando ainda o gás carbônico produzido. A maior ou menor aeração se consegue através do tamanho da matéria prima.
Pedaços > 5cm = macroporosidade = aeróbia ()
Pedaços < 5cm = microporosidade = anaeróbia (condições de redução = silagem)
Para obter a macroporosidade - suficiente circulação de ar deve-se:
iniciar a pilha sobre um colchão de galhos e palha;
pequeno composto doméstico pode ser feito em caixas: furar todas as paredes;
ao montar a pilha, é ideal misturar bem ou intercalar em camadas as partículas grossas e finas;
nunca pisar ou socar a pilha;
pode-se improvisar canais de aeração montando a pilha com bambu ou galhos de atravessado que são mexidos num certo intervalo de tempo;
Temperatura

Ao longo do processo de compostagem, o corpo da pilha, ou melhor seu centro, passa pela seguintes etapas Caracterizadas pela variação da temperatura:
FASE 1: médias e altas temperaturas, decomposição de celulose de amido e açúcares;
FASE 2: altas Temperaturas, decrescendo, decomposição de celulose;
FASE 3: temperaturas baixas, estabilização, ressíntese.
Num dimensionamento errado da pilha do composto, a temperatura pode ficar aquém ou além do desejável:
largura da pilha < l m x altura < l m = pilha não se aquece e precisa de cobertura especial para acumular o calor;
largura da pilha > 2,5m x altura > 1,5m = pilha aquece muito e predominam Microorganismos termofílicos, resultando num produto inferior.
Prática da compostagem
Coleta do material

Na coleta de material leve e seco deve-se maximizar o volume transportado, pois o peso pouco importa. Para tal, deve-se aumentar a capacidade de carga através de redes ou lonas. É sempre bom estocar matéria prima
Montagem da pilha (inspirada no método indiano Indore)
Havendo pouco material a pilha é erguida somente numa ponta, para que sempre possa se atingir a altura ideal. ( que é igual à largura);
A mistura ideal contém restos de vegetais e esterco, adicionando-se algum pó de rocha (fosfato de rocha ou pó de basalto);
Havendo material mais grosso e palhoso, este deve passar alguns dias no estábulo antes de ir para a pilha;
Um pequeno bastão serve para se arejar a pilha entre as reviradas. Tal arejamento torna-se necessário quando há carência de material estrutural (galhos, palhadas grosseiras);
Em menos de uma semana a temperatura (60 a 70ºC) chega ao máximo o que "cozinha", por assim dizer, os materiais estruturais (fibras, celulose) fazendo a pilha desmontar e cair a 1/3 do tamanho inicial.
É sempre interessante identificar as pilhas de composto com plaquetas que indiquem as pilhas que estão prontas e em processo e as plaquetas que indiquem as que estão sendo formadas, de forma que aquelas que já atingiram o tamanho ideal fiquem em processamento sem mais incorporação de nenhum material, e o material do dia disponível seja usado para formar uma nova pilha. Podemos também identificar nestas plaquetas a provável época de maturação e estabilização do composto que estará pronto para uso.
No produto final ocorre um equilíbrio entre tudo que foi usado, resultando num material sem moscas, levemente úmido e com cheiro de terra. A qualidade do composto depende da forma como ele é tratado, e se tivermos em mente que ele é um dinamizado natural, podemos ver formas de potencializá-lo. Podemos citar aqui, como exemplo, uma questão de aprofundamento sobre a atuação do composto quando aplicado no solo: podemos ampliar esta atuação para o tratamento dos males que acometem as plantas, principalmente os citros e bananeiras. Sabe-se que as doenças causadas pelos fungos e bactérias – os parasitas ocorrem mais facilmente em monoculturas e solos pobres em matéria orgânica, onde se encontram difundidos pela terra e pelo ar. No entanto, é possível fazer com que as culturas criem uma resistência a eles. Pode-se dizer que numa compostagem bem feita, os restos de frutos doentes não chegariam a contaminar o meio e a propagar-se como a princípio poderia se pensar; ao contrário, se converteria numa “informação dinamizada” para os tratamentos dos (males), desequilíbrios.
Jardim Botânico Araribá